Depoimentos de vítimas da Ditadura e apresentações musicais marcam Dia Internacional dos Direitos Humanos em Sergipe


Publicado em 12/12/2019 as 19:00

A Praça General Valadão, no Centro da capital, foi palco de celebração ao Dia Internacional dos Direitos Humanos na noite da última terça-feira (10). Com projeções de vídeos de depoimentos sobre violações cometidas no período da Ditadura Militar colhidos pela Comissão Estadual da Verdade (CEV), e apresentação musical das bandas Maua e Karne Krua, a programação destacou a importância de rememorar os 71 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O evento foi realizado pelo Governo de Sergipe, através da Diretoria de Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Inclusão Social (DIDH/Seit) e da CEV, com apoio da Prefeitura Municipal de Aracaju, através da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju).

De acordo com o diretor de Inclusão e Direitos Humanos da Seit, João Martins, o objetivo do evento foi dar visibilidade à Declaração Universal, para o máximo de pessoas. “Embora ela tenha 71 anos, ainda há na sociedade o entendimento equivocado de que Direitos Humanos é coisa para proteger bandido. Trazer para a praça esta discussão é esclarecer uma série de pessoas que precisam ter esses direitos garantidos, como crianças, idosos, pessoas com deficiência, pessoas que estão em privação de liberdade, população em situação de rua, população LGBT, mulheres, negros e tantos outros indivíduos”, ressaltou.

Os depoimentos em vídeo projetados durante o evento foram prestados à Comissão Estadual da Verdade por vítimas da ditadura militar em Sergipe e encontram-se disponíveis no YouTube. “Gente que foi presa, torturada, que perdeu cargo público, por exemplo. Nesta data, os movimentos do mundo inteiro estão relembrando essa pauta ética, que plasma valores que devemos seguir. O principal desafio é sempre a concretização desses direitos celebrados na Declaração. O Brasil é um país desigual e ainda temos muito trabalho a fazer. Hoje é dia de lembrar que Direitos Humanos são direitos de todos”, afirmou a professora de Direito e secretária executiva da Comissão Estadual da Verdade, Andrea Depieri.

O presidente da Funcaju, Cássio Murilo, destacou que a discussão sobre Direitos Humanos passa por vários setores, como a segurança pública e a própria cultura. “Não é possível pensar nos Direitos Humanos sem pensar no direito à cidade, à história, aos nossos bens culturais materiais e imateriais. A SEIT e a Comissão Estadual da Verdade acertaram na proposta. Estamos aqui para dar apoio a este debate tão importante, para que esta seja uma celebração inclusiva, que nos faça refletir sobre a situação atual dos Direitos Humanos no país e no mundo”, disse.

Uma das atrações culturais do evento foi a banda Karne Krua, monitorada pela censura militar no início dos anos 80. Os registros de monitoramento foram encontrados pela Comissão Estadual da Verdade. O vocalista Silvio Campos destacou que a luta pelos direitos sempre esteve presente nas letras da banda. “A música punk traz essa conotação de protesto e nossas letras sempre tiveram críticas de enfoque político-social. Tocávamos nas praças, fomos fotografados e seguidos por um camburão. Mais tarde, vimos esses documentos. Éramos um foco de subversão. Para a gente, é importante participar deste evento, pois os Direitos Humanos servem para mim e para todos, é nosso direito à moradia, ao saneamento básico, à alimentação. Para isso, combatemos posturas como o fascismo, racismo, preconceitos. Essa sempre foi a nossa luta”, defende o músico.

O público presente também reafirmou a necessidade de demarcação da data. Para Carlos Diego Fontes Silva, graduado em Relações Internacionais e consultor de comércio exterior, a realização de um evento como esse, é importante para reafirmar todo processo histórico de luta da sociedade humana. “Ainda mais num momento em que estamos vivendo de retroceder alguns direitos. Então a gente precisa estar afirmando e reafirmando direitos conquistados historicamente. É o cerne do que é a sociedade, depois de tanta guerra, mazela para o mundo, afinal de contas, a Declaração de Direitos Humanos é resultante do flagelo da Segunda Guerra Mundial, então, é importante que a gente ressalte que ainda há muito a ser conquistado e, sobretudo, muito a ser reafirmado para aqueles que não são conhecedores do que é primordial para nós, enquanto seres humanos. São coisas que fazem com que nós sejamos seres pensantes, e o que rege a nossa vida enquanto sociedade. Se a gente tem a questão dos Direitos Humanos estabelecida enquanto direito universal, é porque deve reger a população. Fora disso, só a barbárie”.

Presenças
Também estiveram presentes no evento representantes da Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura – Seduc; da Secretaria Municipal da Assistência Social de Aracaju; dos Conselhos Estaduais de Segurança Alimentar e Nutricional, de Assistência Social, da Mulher, da Pessoa Idosa, e da Pessoa com Deficiência; do Conselho Regional de Psicologia; do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; do Fórum Estadual de Mulheres; do Movimento de Mulheres do Hip Hop; da Liga Direitos Humanos e Democracia, do curso de Direito da UFS; da Diretoria de Direitos Humanos do município de Lagarto; além de parlamentares e outros agentes culturais de Sergipe.

Da ASN