Rumos do cinema brasileiro são incertos para os próximos anos


Publicado em 10/11/2018 as 17:08


Recife: “Por tudo o que está sendo dito por aí, a expectativa para o futuro não é boa”, são as palavras do ator Vinicius de Oliveira, 33, que interpretou o menino Josué, no clássico nacional “Central do Brasil”, em relação ao futuro do mercado cinematográfico brasileiroque pode sofrer corte de verbas nos próximos anos.

De acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine), as produções cinematográficas atingiram um número recorde no ano de 2017. Foram 158 títulos produzidos, o maior número desde 2009. Para Vinicius, seria impossível produzir tanto sem a iniciativa pública. “Sem o fundo setorial do audiovisual, não há cinema”, afirma.

O produtor de cinema Leonardo Mecchi segue a mesma linha de pensamento de Vinicius. Para ele, as iniciativas públicas são fundamentais para a existência do mercado de cinema brasileiro. “É impossível fazer cinema em praticamente qualquer parte do mundo sem esse incentivo. Até mesmo a França, que tem um dos cinemas mais fortes e diversificados depois dos Estados Unidos, precisa de iniciativa pública para a sua sobrevivência. Hoje, o cinema dos Estados Unidos e o de Bollywood, na Índia, conseguem se sustentar sozinhos”, conta.

Distribuição: um dos pontos críticos do mercado cinematográfico
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O alto número de produções não foi suficiente para alavancar o mercado no País. Segundo o relatório divulgado pelo Observatório Brasileiro de Cinema e Audiovisual, os filmes nacionais atraíram 17,4 milhões de pessoas, o que representa uma participação de 9,6% sobre o público total, menor marca desde 2009.

O produtor Leonardo Mecchi reconhece a deficiência de distribuição, destacando que o poder público serve também para corrigir essas falhas. “As iniciativas públicas enxergam além do mercado. Elas regulam a produção e a exibição de forma a garantir uma diversidade maior, para que os filmes brasileiros cheguem ao grande público. É também uma forma de tentar deter a avalanche de filmes estrangeiros, que tomam as salas de cinema e deixam o público sem outras opções”.

Mesmo com o baixo alcance de público no ano de 2017, Leonardo Mecchi destaca que o cinema gera lucros. “Muita gente acredita que o mercado cinematográfico ‘mama nas tetas do governo’, mas esquece que o cinema gera mais riquezas do que consome”, diz. Sobre esse assunto, o ator Vinicius de Oliveira acredita que o setor é o um dos que mais gera emprego na cultura. “É muita gente envolvida na produção de um filme. Não é só elenco ou produção. Do motorista ao protagonista, todos estão trabalhando para a construção de um mesmo produto”, desabafa. “Retirar os incentivos públicos do cinema é prejudicial para o País como um todo e aumentaria o número de desemprego”, completa.

Além do aspecto financeiro, Leonardo Mecchi ainda destaca que importância de ter um mercado cinematográfico nacional forte é para que o brasileiro se veja e se reconheça nas telas. “Ele, quando se vê na tela, se identifica e se cria enquanto nação. Isso é muito necessário”.

Janela

Nesta última semana, a 11ª edição do Janela Internacional de Cinema do Recife produziu um encontro entre produtores, realizadores e artistas para celebrar e prestigiar as obras de destaque do mercado. O festival ainda segue neste final de semana.

Entre os destaques estão a exibição do clássico“Central do Brasil”, no Cinema São Luiz, seguida de debate com o ator Vinícius Oliveira. Haverá também a reprise de "A Morte do Demônio", às 20h40, no Cinema da Fundação - Derby. Já no domingo, às 19h40, terá a reexibição do longa "O Homem que Surpreendeu o Mundo", no Cinema do Museu - Casa Forte; e no Cinema São Luiz, às 20h, o público poderá ver o clássico "Asas do Desejo", de Wim Wenders.