'A prevenção é fundamental para reverter a depressão', afirma psicóloga


Publicado em 08/10/2019 as 09:12

Quando alguém conta que está deprimido, muitas vezes nossa reação pode ser de pensar quantas vezes a vimos chorando ou desanimada, e se esse não for o caso, questionar se é mesmo verdade. Mas, estar deprimido é muito mais do que estar triste e chorar o tempo todo. Às vezes, quem sofre de depressão mostra sintomas que, de acordo com o senso comum, não estão associados à condição. Conhecer os sintomas pode te ajudar na sua escuta empática com a pessoa que está sofrendo e ajudar na sua recuperação. A psicóloga Cassia Guimarães esclareceu algumas questões com o objetivo de falarmos sobre o tema independentemente de não estarmos mais no setembro amarelo, mês da prevenção do suicídio.

Sergipe Notícias: O que diferencia tristeza de depressão?

Cassia Guimarães: A tristeza é um sentimento e se caracteriza por ser fenômeno de causas externas, ou seja, a causa da tristeza é algum acontecimento específico - ficamos triste quando ocorre determinada situação ou fato negativo em nossa vida. É natural que num momento da nossa vida podemos ficar triste, mas não impede de percebermos situações positivas nela. A tristeza tem duração de algumas horas ou até alguns dias. Entretanto a depressão é uma doença e se caracteriza por ser um fenômeno interno do indivíduo, ou seja, o sentimento ruim não passa e prejudica diversos aspectos da vida, tais como a saúde, relacionamentos profissional, social e familiar. Também pode ser associada a pensamentos de morte ou suicídio. No caso da depressão, sem tratamento adequado, poderá durar meses ou anos.

SN: Depressão só cura com remédios?

CS: Nos quadros de depressão leve, somente a psicoterapia costuma responder bem ao tratamento. Porém, em casos mais graves, após avaliação psiquiátrica, poderá ser indicado alguns antidepressivos para ajudar o paciente a sair da crise.

SN: A depressão afeta homens e mulheres na mesma proporção?

CS: Segundo alguns estudos já efetuados, as mulheres são mais suscetíveis a desenvolver depressão que os homens. Essa diferença pode ocorrer por diversos motivos: os homens têm maior dificuldade de expor os sentimentos tendendo a mascarar os sintomas, passando a impressão de que o percentual de homens com depressão é bem menor; as mulheres têm outros fatores relacionados a sua condição fisiológica, como a influência da flutuação hormonal relacionadas ao ciclo reprodutivo feminino, podendo interferir no humor e no comportamento.

SN: Quais os principais sintomas?

CS: Além do estado deprimido e da anedonia, também são sintomas da depressão:

  • tristeza profunda;
  • baixa autoestima;
  • desinteresse e apatia;
  • distúrbio do sono;
  • pensamentos negativos;
  • irritabilidade;
  • choro frequente;
  • alteração de peso;
  • dificuldade de concentração;
  • ideias suicidas;
  • fadiga ou perda de energia constante;
  • sentimento de culpa ou inutilidade;
  • alteração da libido;
  • ter explosão de raiva independente da gravidade dos motivos.

SN: Como diagnosticar?

CS: O diagnóstico da depressão é clínico e realizado por profissional de saúde mental. Ele fará uma avaliação que tomará como base os sintomas descritos e a história de vida do paciente. Após o diagnóstico, o profissional fará o encaminhamento necessário para o tratamento, que geralmente é realizado em conjunto pelo psicólogo e pelo psiquiatra.

SN: Falar sobre depressão ajuda ou piora?

CS: É importante falar sobre depressão. Nem sempre o indivíduo reconhece que apresenta a doença e cabe às pessoas próximas estimulá-lo a buscar ajuda profissional especializada, no caso, psicólogo e psiquiatra. Mostre que se importa com ele e com seus problemas, nunca menospreze o que ele sente. Entretanto, é preciso evitar comentários que o façam sentir-se inferiorizado. Escutar e acolher com atenção e cuidado é fundamental para a pessoa que está em depressão.

SN: O setembro amarelo ajudou de alguma forma pacientes?

CS: O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio e que contribui bastante em levar informação, esclarecer e abrir espaço para falar sobre o assunto com à população. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), indica que a prevenção é fundamental para reverter essa situação. Falar sobre suicídio pode ajudar muito aqueles indivíduos que estão em grande sofrimento psíquico e somente a morte é a única alternativa para acabar o sofrimento. Por isso, a comunicação sobre o assunto é muito importante e ajuda muitas pessoas.