Médicas americanas falam sobre nova abordagem a pacientes com obesidade
Em palestra para alunos dos cursos de saúde da Unit, as profissionais do Cambridge Health Alliance, em Boston, falam sobre estratégia de saúde que enfrenta os preconceitos existentes em relação às pessoas obesas ou com excesso de pesoPublicado em 20/11/2023 as 10:00
Uma nova abordagem para tratar e acompanhar pacientes com obesidade ou excesso de peso. Esse é o espírito da estratégia Health at Every Size (“Saúde em Todos os Tamanhos”, em tradução livre), que é uma das mais abordada em hospitais e centros de saúde dos Estados Unidos. Ela foi tema de uma palestra ministrada pelas médicas e professoras Katherine Lemons e Neha Sandeep, do Cambridge Health Alliance (CHA), em Boston (EUA). O encontro, aberto a estudantes de Medicina e outros cursos da área de Saúde da Universidade Tiradentes (Unit), aconteceu na última sexta-feira, 17, no Campus Farolândia.
Em inglês, as médicas explicaram que a abordagem é desenvolvida desde a década de 1960 e procura minimizar a perda de peso como objetivo de saúde, enfrentando preconceitos existentes em relação às pessoas obesas ou com excesso de peso. Segundo elas, a narrativa da saúde centrada no peso coloca o peso corporal no centro do que se pensa e do que se fala sobre como está o paciente, enfatizando a busca pela perda de peso por meio de dietas. Isso acaba resultando danos de ordem física, social, psicológica e comportamental, como insatisfação corporal, diminuição da saciedade, aumento dos fatores de risco de doenças, atrasos nos cuidados de saúde e distúrbios alimentares.
Com base na experiência vivenciada no CHA, um dos principais centros de saúde de Boston e especializado no tratamento a pessoas vulneráveis, Neha e Katherine orientaram os estudantes a reconhecer as maneiras pelas quais o preconceito e o estigma do peso afetam o atendimento ao paciente e são uma preocupação de saúde pública, bem como os danos de promover dietas e perda de peso em ambientes de saúde. Todos também foram estimulados a aprender métodos alternativos para medir e promover a saúde, incluindo alimentação intuitiva, e ferramentas para uma prática de cuidados primários centrada no paciente e, que inclua a questão do peso.
“Essa é uma abordagem que é neutra em relação ao peso, na qual você tenta não julgar o paciente a partir de como ele se apresenta, e tenta tratar ele não levando o peso como um aspecto”, resume a assessora de Relações Internacionais da Unit, Júlia Gubert, destacando que a palestra foi uma oportunidade de troca de experiências entre os estudantes da área de saúde e as profissionais americanas. “Uma apresentação como essa é a oportunidade de que os alunos tenham contato com pessoas de fora do Brasil, nesse caso dos Estados Unidos, que trabalham os temas que eles já conhecem, mas de outra forma, que podem ter uma abordagem diferente para os temas, uma forma diferente de tratar os pacientes”, acrescenta.
A palestra foi prestigiada principalmente pelos alunos de Medicina, que acompanharam as explicações feitas em inglês pelas palestrantes e interagiram com muitas perguntas. A aluna Mikaelly Peixoto Santana, do 5º período de Medicina da Unit, considerou a palestra importante pela relevância do tema. “Saúde alimentar é algo não tão discutido quanto eu acho que a gente deveria discutir no sentido de saúde em si. Achei super importante voltar à saúde alimentar como um ponto da saúde mental. Eu gostei bastante. Achei agregador, em vários sentidos”, disse.
Já para a aluna Ludiane Matos Garcia Sampaio, do 5º período, o tema ainda é pouco tratado, inclusive nas faculdades. “É um tema com o qual a gente acaba lidando muito nos ambulatórios e nos consultórios. A gente, muitas vezes, não sabe como tratar ele da forma certa. Essa palestra foi realmente muito importante pra gente e acrescenta, porque é uma forma da gente ter um contato com a visão de fora, diferente do que a gente está habituado a tratar no nosso dia a dia. E ajuda a treinar o inglês também”, avaliou ela, que também pretende estudar no exterior.
Parceria
A visita das professoras Lemons e Sandeep faz parte da parceria firmada desde o ano de 2020 entre a Unit e o Cambridge Health Alliance, que já enviou seis professores para visitas e palestras nos campi da Unit. A instituição sergipana, por sua vez, já enviou 30 estudantes para fazer um internato (estágio obrigatório) de um mês em Boston. Ao longo de toda a semana passada, elas conheceram as unidades e infraestruturas mantidas para os cursos de saúde da Unit, além de projetos de pesquisa e de extensão desenvolvidos atualmente, tanto pelos cursos de Medicina quanto pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA).
“O intuito desse encontro é dividir um pouco da experiência delas, dentro das suas áreas de especialidade, especificamente relacionada à nutrição e obesidade, mas também fechar essa semana de trabalho que nós tivemos, mais voltada para projetos junto à instituição e às suas unidades, compartilhando um pouco também do trabalho delas no CHA para os nossos estudantes da área de saúde. É para que eles também consigam estabelecer um diálogo mais próximo do que nós podemos oferecer aqui no campus e das oportunidades junto ao nosso parceiro em Boston”, disse a gerente de Relações Internacionais da Unit, Selen Ive Carneiro.
A visita também causou boas impressões e aprendizado às professoras americanas que puderam assimilar mais conhecimentos não só sobre o sistema brasileiro de saúde, mas também sobre a nossa cultura. “Foi incrivelmente importante, não apenas para aprender de um ponto de vista profissional, mas também de um ponto de vista pessoal e social, para melhor entender os nossos pacientes e criar conexões significativas com os estudantes de medicina. É algo que eu me lembrarei pelo resto da minha carreira”, afirmou Katherine.
Asscom Unit