Brasil registra mais de 7,5 milhões de casos suspeitos de dengue

O total parcial, entre janeiro e junho deste ano, é maior do que o dobro do total de anos anteriores completos; combinação de tempo quente e chuvas esparsas criam mais condições para a proliferação do mosquito causador da doença
Publicado em 08/06/2024 as 09:00

Fernando Frazão/Agência Brasil

O Brasil aparece como o país que mais registra casos de dengue em todo o mundo, segundo um relatório divulgado na semana passada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O documento elaborado pela entidade coloca a doença como uma “ameaça global” à saúde pública e determina a adoção de um sistema de “vigilância robusta em tempo real” para controlar a sua transmissão.


Segundo dados da Organização Panamericana de Saúde (Opas), atualizados no dia 6 de junho, o Brasil teve mais de 7,53 milhões de casos notificados de dengue, apenas no ano de 2024, dentro de 22 semanas. É um número maior do que o dobro do total dos anos anteriores completos (com 52 semanas epidemiológicas): 3,08 milhões em 2023 e 2,36 milhões em 2022. Se contados os casos confirmados e as mortes, o Brasil também detém a maioria dos registros: Apenas neste ano, foram mais de 3,74 milhões de pessoas com dengue, com 3.325 mortes no mesmo período.


Os resultados do Brasil também são muito maiores do que os casos registrados em outros países. Somente nas Américas, a Argentina ficou em segundo lugar no ranking da Opas, com cerca de 498 mil casos suspeitos e quase 178 mil confirmados. E o terceiro em casos notificados é o Paraguai, acima dos 278 mil. Em relação às confirmações de dengue, o posto é assumido pelo Peru, com mais de 197 mil.


O médico infectologista Matheus Todt, professor do curso de Medicina da Universidade Tiradentes, explica que a dengue é uma doença endêmica, com surtos que ocorrem periodicamente, desde a década de 1990, mas o momento atual é de uma etapa maior no número de casos. “O fato do tempo estar mais quente, com mais chuvas esparsas e maior possibilidade de coleções hídricas para reprodução do inseto, torna alto o risco. Então a gente tem que ter muito cuidado, porque a forma mais efetiva de combater a dengue e outras arboviroses, como zika e chikungunya, é combater a proliferação do mosquito”, orienta, referindo-se ao aedes aegypti, agente transmissor das três doenças.


Os cuidados citados envolvem ações básicas, como esvaziar, limpar e tampar recipientes que acumulem água. As autoridades de saúde atestam que a grande maioria dos criadouros do mosquito se formam dentro das residências e de terrenos, onde o aedes deposita seus ovos em locais com água parada. “O mosquito se prolifera em água parada em qualquer local, não necessariamente a água limpa. Qualquer água parada pode ser um reservatório. Agora é imprescindível que todos tenham cuidado, porque se eu tiver cuidado e meu vizinho não tomar esse cuidado, eu posso pagar por um erro alheio”, alerta Todt.


Em algumas regiões, como o Nordeste, a maior parte dos casos de dengue vem acontecendo entre o final do verão e meados do inverno, quando as chuvas acontecem com maior intensidade. A mesma preocupação aparece com mais força no Rio Grande do Sul, que ainda enfrenta as consequências das enchentes e tempestades que arrasaram mais de 460 cidades do estado. O Ministério da Saúde já prevê essa alta de casos por causa do aumento das temperaturas e das áreas com acúmulo de água - condições que favorecem a criação e a proliferação do mosquito aedes aegypti, agente causador da doença.


Aplicar as vacinas


Outro ponto recomendado para combater o avanço da dengue é a aplicação da vacina TAK-003, conhecida como Qdenga, considerada pela OMS como “a única vacina disponível”. Segundo o relatório, a aplicação em massa do imunizante “deve ser vista como parte de uma estratégia integrada para o combate à doença e que inclui também o controle de vetores, a gestão adequada dos casos e o envolvimento comunitário”.


A Qdenga é desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda e está sendo aplicada no Brasil desde fevereiro, através da rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Em razão da quantidade limitada de doses a serem fornecidas pelo próprio fabricante, a vacinação é feita apenas em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, mas a OMS recomenda a imunização das crianças entre 6 e 16 anos em locais com alta intensidade de transmissão de dengue.


Sobre esse recorte adotado, o professor Matheus Todt explica que alguns grupos de pessoas, como mulheres, gestantes e adolescentes, possuem algumas características fisiológicas que atraem mais mosquitos e os insetos em geral, tornando-as mais vulneráveis à ação do aedes. “A pele mais quente, a capacidade de suar um pouquinho mais, a liberação maior de gás carbônico na respiração e alguns fatores hormonais atraem mais os mosquitos. Na verdade, isso é uma informação muito mais biológica do que médica, mas com o crescimento de doenças transmitidas por insetos, essas informações que eram mais do campo da biologia tornaram-se mais importantes na área médica”, afirma.


Autor: Gabriel Damásio

Fonte: Asscom Unit, com informações de Agência Brasil e O Globo